O Homem Reto - Por Claudia
Na sua casa mais uma vez ele arrumava o cabelo, um nervosismo que ele não demonstrava no seu semblante, só as mãos a suar e o cabelo sempre a arrumar como se aquele gesto diminuísse o medo que ele tinha do altar, crescera trancado como muitos crescem hoje em dia, atrás das grades de apartamentos, os medos dos pais, a violência urbana, a infância passada dentro de casa, não existia mais brincadeiras da rua, a rua antes destinada às crianças era o antro dos marginais, tudo de fato molda um caráter, até o simples fato de onde você cresceu de como você cresceu, e ele cresceu cheio de responsabilidades, até os 15 anos se achava o dono da verdade, conforme o passar dos anos isso foi ficando mais claro, amante dos livros e estudos se achava melhor pelo seu intelecto, mas quem há de culpar isso?
Tantos se vangloriam por seus corpos e coisas fúteis, ele era um amante da cultura do saber sem fim, do saber demais, isso o transformava em alguém, fazia que ele perdesse o medo do mundo, sempre precisamos nos agarrar a algo pra enfrentarmos esse mundo tão hostil, na verdade ele era como tantos outros fazendo sua vida uma verdade pra enfrentar o medo, o medo que temos das pessoas, do ser social, ser social tão irritante como um pernilongo numa noite de insônia, mas agora ele estava cumprindo a sua jornada, ele era trabalhador, respeitado, tinha uma carreira e a ordem natural das coisas seguia, agora seria o homem perfeito, mulher. trabalho e mais tarde filhos, ele mais uma vez ficou impaciente e ajeitou os cabelos, já se dirigia para igreja, pais contentes, sorridentes, familiares arrumados nos melhores trajes, tudo da devida forma, tudo como era a vida dele, tudo organizado, arrumado, ajeitado com esmero e paciência, tudo muito formal, até o terno com um corte reto era quase a transparência.
Do ser que ele era, se poderíamos o chamar de algum nome. vamos chamar de retidão de caráter do querer ser certo era ele o homem reto, passou pelas ruas mais uma vez pensou no seu casamento, era o melhor a fazer, ele novamente passou a mão pelos cabelos e se viu no vidro do carro o reflexo do homem reto, lhe era agradável se olhar a sua figura era a de um homem reto bem apessoado um vencedor, sim ele sabia, ele era um vencedor, falou baixinho pra si mesmo: Sou um vencedor...
Chegando na porta da igreja, ele subiu no altar, a vida toda fez o que era esperado dele, uma vida planejada, sempre assim, ele era o homem reto sempre reto, as mãos suavam cada vez mais, na verdade sua vida era uma prisão, o homem reto olhou a sua volta à igreja lotada, rostos do seu cotidiano, do trabalho, todos sorrindo pela cerimônia que celebrava a justaposição de mais um homem reto no rol dos que eram retos eram dignos de fazer parte da sociedade era um homem preste a ser chamado homem reto de família, passou a mão mais uma vez pelos cabelos, tinha os cortado, mais uma vez passou tentando esconder seu medo, a música escolhida a dedo começou a tocar, Ave Maria, não podia ser outra na vida de um homem reto não há outra escolha além de Ave Maria uma esposa perfeita como seria perfeita sua vida de casado, da casa pro trabalho do trabalho pra casa a boa conduta e educação dos filhos, mais uma vez a gravata apertava o homem reto suava muito. as grades iam se fechando se sentiu Tonto.
E sufocado, a noiva ia aproximando com um sorriso, o homem reto por uma única vez na vida perdeu momentaneamente a sanidade, e naquele momento descobriu a sua verdade, ele se sentiu preso tinha que sair dali, mas não de qualquer maneira, ele queria a libertação à desforra pela sua vida monótona de homem reto, ele queria a derrubada da farsa da sua vida. Tirou os sapatos e jogou na cabeça do padre. símbolo da sociedade patriarcal regida por homens que se chamam retos quando muitos estão corrompidos como a sociedade corrompida que ele vivia, que ele fingia ser , a igreja toda parou abismada sem saber o que dizer ele gritava fora de si: maldita seja a retidão de sociedade servil a regras de conduta, tirou o cinto as calças e a cueca, roupas nada mais que vestimentas nada mais que pedaços de panos que mostravam a posição social se fossem em farrapos eram de pobres servis também a sociedade tudo tão desigual , ele teve vergonha das suas roupas de homem reto tão alinhadas tão bem cortadas, pegou as roupas jogou na família da noiva, a mãe da noiva era amparada desmaiada, ele gritou e ecoou junto com a ave Maria: maldita conduta social, malditos seja vocês capacho da sociedade, tirou a camisa, o paletó, a gravata e jogaram na sua própria família, malditos vocês que me chamam, que esperam que eu seja retos, malditos todos, ele nu foi saindo devagar passou perto da noiva que chorava e lhe deu um singelo beijo no rosto: seja feliz mulher reta, saiu nu bem devagar jogou as roupas como são Francisco de Assis, mas não em prol da Resignação não para uma vida celibatária sem posses jogou suas roupas pela sua liberdade, pela primeira vez na vida se sentiu feliz de verdade, o homem nu cruzou a cidade com o mais sincero e terno sorriso de felicidade o sorriso da libertação.
Ricardo Lemos Neto
Na Bolsa da: REGIANE MOREIRA
em
sábado, 14 de julho de 2007
ás 7/14/2007 08:30:00 PM
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Muito bacana! Foi assim, um misto de Nélson Rodrigues com Veríssimo!
E viva a liberdade!!!
Abraços pra vocês!
Xeretado por: frodo | 16 de julho de 2007 às 10:49
Amo esse blog...
Bolsa de mulher é tendencia.
hehehe
Meu blog é como se fosse bolsa de gay
hehehe
keep going
Xeretado por: IAGOM | 2 de agosto de 2007 às 16:38